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Dr. Moises Chencinski - CRM.: 36.349
Pediatria: da barriga para o mundo, com muita saúde!
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Obesidade Infantil, não vamos deixar se tornar uma epidemia!





10 perguntas que devemos nos fazer sobre obesidade infantil

A obesidade já é considerada pela organização Mundial de Saúde como a Doença Crônica Epidêmica Não Transmissível (DCNT) desse século. Pesquisas no Brasil mostram que 1 entre 3 crianças de 5 a 9 anos já apresentam sobrepeso. A Academia Americana de Pediatria promoveu em setembro de 2013 o mês de alerta contra obesidade infantil nos Estados Unidos. Por aqui, precisamos de uma ação semelhante, de eventos, semanas, meses de alerta também... Com isso em mente, elaborei 10 perguntas que podem nos ajudar a refletir um pouco mais sobre o assunto.


Como saber se o peso do meu filho é saudável?

Tudo começa pela consulta regular com o pediatra. Durante as avaliações de rotina (mensais no primeiro ano, trimestrais de 1 a 2 anos, semestrais de 3 a 4 anos e a partir daí anuais, se nada diferente exigir avaliações mais frequentes), o pediatra avalia o crescimento e desenvolvimento das crianças. Durante esse acompanhamento, são obtidas informações a respeito da alimentação da criança e da família e através dos dados obtidos, comparados aos esperados, o profissional poderá identificar precocemente se há alguma alteração que mereça correção e cuidados.


Quais são os principais riscos de ter sobrepeso durante a infância?

A obesidade é considerada pela Organização Mundial de Saúde como a Doença Crônica Epidêmica Não Transmissível mais frequente desse século. Estudos mostram a maior precocidade desse quadro no mundo todo e o Brasil não foge a essa regra. Pesquisas recentes identificaram que 1 em cada 3 crianças de 5 a 9 anos estão com sobrepeso. Quanto mais cedo aparece o sobrepeso, maior é a carga de sua influência no adulto. Dislipidemia (problemas com colesterol e triglicérides), diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, alterações ortopédicas, problemas dermatológicos e até questões sociais (bullying) e psicológicas estão entre as principais consequências do sobrepeso durante a infância.


O que os pais podem fazer para ajudar os filhos a perderem peso de maneira saudável?

Antes de pensar em agir no sobrepeso, os pais devem pensar em como evita-lo. É mais eficaz, mais econômico, menos sofrido para todos. Esse caminho começa pelo estímulo ao ALEITAMENTO MATERNO desde a 1ª hora de vida, EXCLUSIVO E EM LIVRE-DEMANDA até o 6º mês estendido ATÉ 2 ANOS OU MAIS. A alimentação complementar só deve ser introduzida após o 6º mês de vida, independente do tipo de aleitamento. Essa orientação deve ser feita durante o acompanhamento pediátrico de rotina (consultas de puericultura). Uma vez que se estabeleça o sobrepeso, a primeira atitude que os pais podem tomar é consultar o pediatra para diagnóstico e acompanhamento do quadro. Uma avaliação e orientação nutricional (com o nutricionista) não pode deixar de ser solicitada e seguida. O mais importante não é ensinar à criança o que ela não pode comer e sim o que ela pode e deve comer. Além disso, a atividade física regular, própria para a idade, é fundamental para que a criança consiga se reequilibrar.


Quais as maneiras mais eficientes (e corretas) de incentivar a criança a praticar exercícios físicos?

Um estudo realizado pelo CELAFISCS (grupo responsável pelo Agita São Paulo) mostrou que em uma aula de educação física nas escolas (públicas ou privadas) a atividade física se resume a uma média de 7 minutos em 50 minutos de aula. Por outro lado, até em parte por questões de segurança, nossas crianças brincam cada vez mais dentro de casa e a mídia oferece as mais variadas possibilidades com DVDs, videogames e outros eletroeletrônicos que permitem e promovem o sedentarismo. Uma atitude interessante seria limitar a no máximo duas horas ao dia a atividade frente aos computadores, TVs, videogames e oferecer chances de maior tempo dedicado às atividade e exercícios físicos em parques, praças, clubes, playgrounds de condomínios. Aos finais de semana, ou quando possível mesmo durante a semana, os pais podem brincar com seus filhos em áreas abertas, em quadras, praticando esportes, andando a pé ou de bicicleta, oferecendo atrativos para que essa criança também queira se mexer e brincar. Talvez uma resposta que coubesse em todas essas perguntas seria um incentivo ao melhor VÍNCULO FAMILIAR. Assim teríamos uma melhor possibilidade de interação e de cuidados com o crescimento e o desenvolvimento de nossos filhos.


Quais as maneiras mais eficientes (e corretas) de fazer com que a criança diminua – ou pare – de comer junk food?

Tradução do Dicionário Online Michaelis Inglês-Português:

Junk Food: alimento rico em calorias de baixo valor nutritivo, mas fácil e rápido de preparar. 2 sl algo que é agradável ou atraente, mas que tem pouco valor real.

A família deve servir de guia, de suporte, de apoio dando o exemplo para que a criança siga uma alimentação correta. O alimento não deve ser usado como moeda de troca, como prêmio e o junk food ou qualquer outro tipo de alimento inadequado oferecido dessa forma se transforma em uma meta, em um objetivo. É fundamental que o alimento oferecido em casa e na escola seja saudável e adequado ao consumo das crianças. A maneira mais eficiente e correta é não oferecer a possibilidade e o acesso ao junk food. Existem cardápios excelentes que podem ser feitos sem que se use nenhum ingrediente que possa causar danos à saúde de uma criança, fato que vai gerar um comportamento alimentar mais adequado no adulto também.


Como incentivar a criança a comer comidas saudáveis?

O exemplo deve partir de casa, desde a compra dos alimentos, passando pelo seu preparo e pelo consumo. Os pais devem dar o exemplo, praticando uma alimentação adequada, equilibrada e oferecendo às crianças a oportunidade de consumir alimentos saudáveis (frutas, legumes verduras, carboidratos, proteínas e “gorduras do bem”). Não há necessidade de ter em casa os biscoitos recheados, salgadinhos, preparar alimentos gordurosos, como frituras, doces, chocolates. Isso não significa que esses alimentos não possam ser consumidos, mas eles não trazem nenhum benefício nutricional e não fazem parte de nenhum modelo alimentar saudável. Mas nada vai ser resolvido em grande escala no país se o governo, a sociedade, a mídia, a escola, a família não trabalharem juntos nesse sentido, cada um fazendo a sua parte. Se existissem programas governamentais que fossem cumpridos, se a mídia estabelecesse limites em sua publicidade direcionada à criança, seguindo uma regulamentação apropriada, se a sociedade estivesse alerta contra os abusos alimentares, se a escola pudesse controlar as merendas, os lanches, as refeições sem que fossem oferecidos alimentos inapropriados e, principalmente, se isso fosse feito em conjunto, como um esforço único, talvez tivéssemos alguma chance de reverter esse processo.


Há maneiras naturais de ajudar a criança a perder peso, sem o uso de medicamentos ou métodos artificiais?

Os medicamentos e as dietas milagrosas, além de não resolverem os problemas em crianças e até mesmo em adultos, têm uma ação paliativa e, na maior parte das vezes, acabam naquele tão conhecido efeito sanfona que é tão prejudicial quanto a obesidade. Nenhum planejamento escapa de uma alimentação equilibrada (reeducação alimentar), atividade e exercícios físicos regulares e estilo de vida saudável (horários adequados de sono, de alimentação, sem vícios).


Quais os principais erros dos pais/educadores quando o assunto é qualidade da alimentação infantil? Por que são prejudiciais?

Infelizmente, temos uma cultura voltada ao prazer e muitos pais e educadores não conseguem compreender a importância do controle da alimentação na vida saudável das crianças. Muitas vezes, os próprios pais agem boicotando ações da escola, por exemplo, quando não aceitam que as lanchonetes deixem de servir alimentos gordurosos e salgadinhos. Essa atitude foi tomada por pais em grandes escolas em São Paulo, por exemplo, com a justificativa de que estavam cerceando a liberdade de escolha de seus filhos, impedindo a oferta de alimentos que eles queriam consumir, mesmo tendo sido informados sobre os riscos dessa alimentação e da boa intenção por trás dessas medidas. Isso faz com que as próprias crianças assumam essa postura de prepotência e de falta de limites que vai permear a vida deles, durante a infância, chegando à adolescência já com problemas de saúde potencialmente graves, sendo apoiados pela ação impensada de seus pais. Muitos pais “premiam” seus filhos por “boas atitudes” como se comportar, tirar uma nota boa, passar de ano, que é o mínimo que se espera de uma criança que esteja sendo criada para ser um bom cidadão, com festas e reuniões em grandes redes de fast-food. Esse hábito é extremamente prejudicial. Comida não é presente, não deve ser moeda de troca. Comida é a base de nosso crescimento saudável. Se a base é ruim, assim será o crescimento.


Como ajudar a criança a lidar com as possíveis situações de bullying relacionadas ao seu peso?

O bullying é uma questão muito séria e cada vez mais comum nos dias de hoje e ele pode aparecer de uma forma mais velada, como uma brincadeira, e de forma mais ostensiva, causando problemas muito sérios na autoestima e no desenvolvimento da criança. O mais importante é que os pais tenham um canal sempre aberto para ouvir seus filhos, que as crianças se sintam confortáveis e acolhidas em suas dificuldades para que eles saibam que podem ter em sua família o apoio e o suporte adequados.
Uma vez identificada qualquer situação de bullying, os pais devem procurar ajuda na escola ou nos ambientes onde ela ocorreu para esclarecimento e providências cabíveis. O Conselho Nacional de Justiça lançou em 2010 uma cartilha sobre o assunto com o Projeto Justiça nas Escolas. É um guia interessante para se conhecer um pouco mais sobre o assunto. Caso o quadro já tenha atingido proporções mais sérias, uma ajuda psicológica pode ser necessária.


Como conseguir conscientizar a criança quando os próprios pais parecem não aplicar as dicas saudáveis na própria vida?

Como já citamos anteriormente, os exemplos costumam vir de casa. Para obter maiores chances de sucesso “a casa precisa emagrecer”. A obesidade não traz problemas apenas para as crianças. O adolescente e o adulto também ficam mais sujeitos a doenças cardiovasculares graves, inclusive aumentando o risco de morte mais precoce. A família deve procurar ajuda profissional em todos os campos para que se possa atingir o equilíbrio. Médicos (pediatras, clínicos, endocrinologistas, dentre outros), nutricionistas, psicólogos, professores de educação física são alguns dos envolvidos nesse processo. É fundamental que todos possam participar do processo.









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