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Dr. Paulo Caramelli - CRM-SP 59.289 e CRM-MG 40.220
Neurologia e Saúde
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Demências e doença de Alzheimer

Demência é o termo médico que se utiliza para definir toda condição clínica em que há declínio do funcionamento cognitivo de uma pessoa de intensidade suficiente para interferir com a realização de suas atividades do dia-a-dia, sejam elas profissionais, sociais, de lazer ou mesmo de auto-cuidado (ex. higiene pessoal).

As demências afetam de 5% a 10% dos indivíduos com idade ≥ 65 anos. Esta freqüência aumenta de forma expressiva com a idade, sendo que a cada cinco anos (a partir dos 65 anos), ela duplica seu valor. No Brasil, em que o número absoluto e relativo de idosos vem aumentando rapidamente, este está se tornando um problema de saúde pública.

Cerca de uma centena de doenças podem causar demência, algumas das quais são reversíveis, desde que identificadas e tratadas precocemente e de forma adequada. As duas causas mais comuns de demência são a doença de Alzheimer e a doença vascular cerebral (demência vascular). As duas são responsáveis – isoladamente ou em combinação – por cerca de 75% de todas as demências que ocorrem nos idosos. A doença de Alzheimer é a mais freqüente, responsável por 50 a 60% dos casos. A demência vascular afeta de 10 a 20% dos casos e, embora seja de caráter irreversível, é passível de prevenção, desde que sejam controlados os fatores de risco envolvidos, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e tabagismo.

A doença de Alzheimer é de natureza degenerativa e constitui a causa mais comum de demência na população com idade acima de 60 anos. Embora possa ocorrer antes desta faixa etária, é extremamente raro que inicie antes dos 50 anos. Nestes casos de início mais precoce é comum haver história de casos semelhantes na família e, dessa forma, uma possível causa genética deve ser investigada.

O primeiro sintoma da doença de Alzheimer é geralmente a perda de memória para fatos recentes. Nas fases iniciais, a pessoa se esquece de compromissos, recados, onde guardou objetos, mas se recorda de fatos ocorridos no passado mais distante. Outros sintomas característicos: dificuldades de orientação espacial (o indivíduos pode se perder na rua), dificuldade para encontrar palavras, dificuldades para fazer cálculos. Estes problemas interferem com o desempenho em atividades diárias, seja no trabalho, em casa ou no relacionamento com outras pessoas, e o indivíduo passa a necessitar de supervisão crescente para a realização destas tarefas.

Alterações de comportamento também são comuns na doença de Alzheimer, desde apatia (desinteresse e falta de iniciativa) até delírios (por exemplo, acreditar que alguém está lhe roubando), agitação e agressividade. Estes problemas de comportamento causam grande sobrecarga para os familiares e cuidadores, gerando depressão.

O diagnóstico clínico da doença se baseia na exclusão de outras causas de demência. Ou seja, não há – pelo menos até o momento – nenhum exame que, isoladamente, defina este diagnóstico. São necessários exames laboratoriais e tomografia computadorizada ou ressonância magnética do crânio que têm a finalidade de excluir outras doenças clínicas ou neurológicas que podem causar demência. O diagnóstico é seguro desde que siga um roteiro apropriado e pode ser feito por médicos com experiência clínica e conhecimento da área.

O tratamento da doença de Alzheimer disponível atualmente ainda é apenas de natureza sintomática. Embora sua eficácia seja modesta e varie de caso a caso, há benefícios tanto no que diz respeito aos sintomas cognitivos e comportamentais, quanto em relação às dificuldades para execução de tarefas do dia-a-dia. Além disso, diversos estudos sugerem que há modificações do curso clínico da doença, fazendo com que sua evolução seja um pouco mais lenta naqueles pacientes que tomam as medicações aprovadas para o tratamento.

O tratamento medicamentoso inclui o uso de substâncias que aumentam a concentração cerebral do neurotransmissor acetilcolina, que está reduzida na doença. Três medicamentos atuam deste modo: donepezila, galantamina e rivastigmina. Todos têm indicação terapêutica aprovada para o tratamento da doença de Alzheimer leve a moderada (correspondendo aos estágios inicial e intermediário). Há também uma segunda medicação, a memantina, que atua sobre outro neurotransmissor cerebral, o glutamato. Ela é indicada para o tratamento da doença em suas fases moderada a grave (correspondendo aos estágios intermediário e avançado). A memantina pode ser combinada a qualquer uma das outras três medicações citadas anteriormente (donepezila, galantamina e rivastigmina) em pessoas com doença de Alzheimer em fase moderada.

Estas medicações podem apresentar efeitos adversos, principalmente náuseas, vômitos e diarréia, razão pela qual devem ser iniciadas em doses baixas, seguidas de incremento gradual. É importante salientar que a dose máxima tolerada dentro da chamada faixa terapêutica deve sempre ser buscada, caso contrário pode não haver nenhum benefício clínico.

O convívio com a pessoa que recebe o diagnóstico de doença de Alzheimer é difícil, pois implica em dependência crescente do familiar e/ou cuidador. Há particularidades deste cuidado que merecem atenção especial e, por esta razão, se recomenda aos profissionais de saúde que orientem os familiares e cuidadores, facilitando o acesso a materiais educativos e informações práticas sobre o tema e estimulando a participação destes em reuniões de associações relacionadas (por ex. Associação Brasileira de Alzheimer). Alguns cursos para capacitação de cuidadores também vêm surgindo e podem ser muito úteis.



Dr. Paulo Caramelli - Neurologista - CRM-SP 59.289 e CRM-MG 40.220








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