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17/06/2014 Sem dor, sem ganho? (no pain, no gain?) Quem nunca ouviu esta famosa frase na sala de musculação, oriunda da era clássica do fisiculturismo: “no pain, no gain” (sem dor, sem ganho). Por este conceito a dor muscular seria um reflexo do grau de lesão muscular (microlesões) e consequentemente da hipertrofia muscular. Mas será necessário mesmo sentir dor para se ter ganhos significativos de massa muscular? E no caso de não sentir estas dores, será que não estamos desenvolvendo bem o treinamento resistido e consequentemente não tendo ganhos em hipertrofia? O que é a dor muscular/conceito de dor muscular A dor muscular de 1 ou 2 dias após o treino é denominada dor de ocorrência tardia (DOT) ou dor muscular de início retardado (DMIR), tal dor está mais relacionada às contrações excêntricas 1,11 ou a execução de um padrão de movimento diferente daquele ao qual o indivíduo está acostumado, consequentemente, modificando o recrutando das unidades motoras 1. Devido a estes fatores, muitos indivíduos sentem dores no início de um programa de exercício resistido ou na mudança de exercícios. Por que a dor não é fator de hipertrofia muscular – pontos que questionam a relação dor-hipertrofia Relação da dor com o dano à célula muscular O incremento nas concentrações sanguíneas de creatina cinase é considerado um dos melhores indicadores de dano à célula muscular. Sua concentração foi alterada sem diferença significativa, em relação a valores, tanto em exercícios concêntricos como excêntricos, sendo que os indivíduos que realizaram os exercícios excêntricos apresentaram um quadro de severa dor 12. O interessante foi encontrar concentrações urinárias elevadas de hidroxilisina e hidroxiprolina, estruturas constituintes do colágeno, em exercício excêntrico 1, evidenciando que este tipo de contração afeta também a estrutura do tecido conectivo. Treino excêntrico – dor e hipertrofia Se levarmos em conta a hipótese da dor gerando hipertrofia, poderíamos então, fazer a seguinte consideração: a fase excêntrica esta relacionada diretamente à ocorrência de dor, então este tipo de contração (como também em relação ao treino excêntrico) deve gerar maior hipertrofia. Entretanto, se constatou que a fase concêntrica teve uma maior amplitude nos níveis hormonais de GH em relação à fase excêntrica com respostas iguais para valores do hormônio testosterona 10. POLLAND (2001) verificou que o treino excêntrico teve respostas iguais ao treinamento convencional. Como aspecto negativo, salientou que o treino negativo (ou treino excêntrico) comprometeu significativamente o ganho de força por várias semanas. No mesmo sentido, FLECK (1999) também não verificou diferenças em ganhos de força e hipertrofia do treino excêntrico em relação ao treino convencional. Em outro estudo, LEGER (2001) verificou que o exercício excêntrico também pode afetar o funcionamento e o controle motor, além de diminuição de força e geração de processo inflamatório com recuperação total em torno de 10 dias. Relação direta da dor e hipertrofia muscular TRICOLI (2001) afirma que uma vez que o dano à fibra muscular é focal e não limitado às áreas adjacentes ao sarcolema, o dano à célula muscular, por si só, não provoca a sensação dolorosa. Sendo assim, a dor poderia ocorrer devido aos processos relacionados a inflamação ocorrido em toda estrutura articular/muscular e não somente ao dano estrutural da célula muscular. Da mesma forma, FLECK (1999) destaca que o dano muscular não segue o mesmo padrão temporal da dor muscular, ou seja, se no momento do treino ocorre dano muscular no mesmo momento deveria ocorrer a dor. Este mesmo autor defende que a dor estaria mais relacionada com os sintomas de edema e inflamação. O autor mais enfático sobre este assunto é TESCH (citado por BACURAU et al, 2001) que afirma categoricamente que a dor não está relacionada diretamente com o grau de lesão nem com o ganho de massa muscular. No mesmo sentido, WILMORE (2001) afirma que as concentrações séricas de enzimas podem aumentar e as fibras musculares serem lesadas durante o exercício diário e não produzir dor. Um fator importante é que devido a DOT ocorre uma queda na produção de força 1, 2, 3 e amplitude 1, 4, 5 o que pode acarretar uma queda de intensidade e qualidade em um programa de treino diário, como também na performance de um atleta 11. Outro ponto básico seria sobre o que o treino objetivando a dor pode acarretar sobre a recuperação do indivíduo. Neste sentido DARR (1987) afirma que lesões musculares severas, as quais podem ocorrer devido a treinos exagerados seguindo a filosofia de dor, reduzem o potencial proliferativo das células satélites, organelas responsáveis pela recuperação e crescimento muscular. Neste mesmo estudo, o autor afirma que este tipo de treino pode comprometer a capacidade da recuperação/regeneração muscular. Um aspecto interessante sobre a recuperação seria que se há lesão, existe um processo inflamatório para a recuperação do tecido consequentemente a dor estaria relacionada com a inflamação, entretanto CROISER (1996) verificou em indivíduos do sexo masculino que realizaram contrações excêntricas intensas e apresentaram quadro de dor não tiveram aumento na concentração de prostaglandinas, substâncias responsáveis pelo processo inflamatório. Conclusão Enfim, em nenhum estudo ou citações de autores foram identificados as causas fisiológicas da dor 1,2,3,5,7,8,11. Existem várias hipóteses, mas nenhuma evidência comprovada. É importante salientar que ganhos de massa muscular (hipertrofia) ocorram sem que necessariamente exista quadro de dor muscular 1,11. Conforme os aspectos acima citados, em nenhum momento se verificou uma ligação direta de dor e hipertrofia muscular, até mesmo o que se notou foram certas desvantagens. É claro que no início e em algumas mudanças de treino iremos sentir a dor desagradável ao nos movimentarmos, porém em nenhum momento se objetivou sentir dor e sim a alcançar a fadiga muscular. O interessante é notar que até mesmo os grandes fisiculturistas exercitam até o limite da fadiga, mas com uma preocupação frequente da dor como sinal de uma lesão e não de crescimento muscular13. Para esse grupo de atletas a frase “no pain, no gain” tem mais o sentido de exercitar até o corpo não responder aos exercícios, alcançar a fadiga total, do que em relação à dor proveniente do treino. Se o objetivo for ser um masoquista não há problema em vir à sala de musculação e se submeter aos mais cruéis e mirabolantes treinos defendidos pelos adeptos da dor “agradável”. Agora se o seu objetivo ganhar de massa muscular é melhor parar de acreditar em marombeiros e passar a acreditar em treinos sérios propostos por profissionais sérios. Por: Diógenes Alves Referências Bibliográficas 1. TRICOLI, Valmor. Mecanismos envolvidos na etiologia da dor muscular tardia. Ver. Brás. Ciên e Mov. 9(2): 39-44, 2001. 2. NOSAKA, K. & CLARKSON, P. M. Muscle damage following repeated bouts of high force eccentric exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise. 1995; 27: 1263-1269. 3. TEAGUE, B. N. e SCHWANE, J. A. Effect of intermittent eccentric contractions on symptoms of muscle microinjury. Medicine and Science in Sports and Exercise. 1995;27:1378-1384. 4. CLARKSON, P. M. Exercise-induced muscle damage: animal and human models. Medicine and Science in Sports and Exercise. 1992; 24: 510-511. 5. CLARKSON, P. M., NOSAKA, K & BRAUN, B. Muscle function after exercise-induced muscle damage and rapid adaptation. Medicine and Science in Sports and Exercise. 1992;24: 512-520. 6. DARR, K. C. & SCHULTZ, E. Exercise-induced satellite cell activation in growing and mature skeletal muscle. J. Appl. Physiol. 65: 1816-1821,1987. 7. FLECK, STEVEN J. & KRAEMER, WLLIAM J. Fundamentos do treinamento de força muscular. Editora Artes Médicas, 1999. 8. BACURAU, REURY FRANK et al. – Hipertrofia Hiperplasia. Editora Phorte Editora, 2001. 9. POLLAND, JONATAN P.; CHONG, JAMES; COPEMAN, ELIZABETH, M.; JONES, DAVID A.; - Acute muscle damage as a stimulus for training-induced gains strength. Medicine and Science in Sports and Exercise, 2001;33,(7):1200-1205. 10. DURAND, ROBERT J.; CASTRACANE, V. DANIEL; HOLLANDER, DANIEL B.; TRYNIECKI, JAMES J.; BAMMAN, MASCAS M.; O´NEAL, SARAH; HERBERT, EDWARD P.; KRAMER, ROBERT R. – Hormonal responses from concentric and eccentric muscle contractions. Medicine and Science Sports and Exercise,2003;35(6):937-944. 11. WILMORE, JACK H.; COSTILL, DAVID L. – Fisiologia do esporte e do exercício. Editora Manole. 2001. 12. CROISIER, J.L. ET AL. – Myocellular enzyme leakage, polymorphonuclear neutrophil activation and delayed aonset muscle soreness induced by isokinetic eccentric exercise. Archives of Physiology and Biochemistry. 1996:332-329. 13. SCHWARZENNEGER, A & DOBBINS, B. Enciclopédia de fisiculturismo e musculação, Artmed Editora; Veja mais sobre ATIVIDADE FÍSICA em nossas colunas de: 1) Em forma com Pilates com Profa. Danielle Rotondo 3) Dicas de Atividade Física, com José Carlos Altieri 4) Corrida, com Emerson Vilela 5) Qualidade de Vida, com Profa. Priscilla de Arruda Camargo 6) Cuide da Saúde com Exercícios, com Prof. Dr. Marco Uchida 7) A Gestante na Sua Melhor Forma, com Profa. Ms. Gizele Monteiro 8) Atividade Física e Musculação com Prof. Amauri Altieri |
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