Colunistas

Dr. Alexandre Padilha
A globalização da saúde e você!
Artigos | Currículo   

A epidemia que você, mais do que ninguém, pode controlar!

NOVA EPIDEMIA!! Esta expressão gera preocupações e curiosidades. Ao ouvi-la, o faz interromper qualquer momento de descanso para atrair sua atenção, mobilizando a imprensa para interromper a sua programação, governantes a fazerem planos e dar orientações e explicações, profissionais de saúde a se atualizarem e infectologistas, como eu, encherem a boca de curiosidade. Ela sempre esteve associada a ideia de agentes infecciosos (vírus, bactérias, parasitas) e bichos transmissores (ser humano, mosquitos, animais silvestres ou domésticos). Ela sempre vem em sinal de alarme, com uma série de medidas e já nos dá aquela dor de cabeça: "no que terei que mudar a minha vida da hora para noite ?" Neste espaço, conversarei com vocês que nos leem e reproduzem, sobre os ALARMES atuais da Saúde no Mundo e aproximá-los do nosso dia a dia, o que ele tem a ver com nossas condutas como pessoas que buscamos ter uma boa qualidade de vida ou que queremos aliviar a dor e o sofrimento de um parente, um conhecido ou dos grupos que convivemos no trabalho, no clube, na academia e no prédio onde moramos. Trarei para cá as novidades e discussões que ocorrem nos encontros de especialistas e responsáveis pela saúde global, decisões e cenários que mais cedo ou mais tarde chegarão a sua vida, ao consultório ou serviço de saúde que você frequenta.



Portanto conhecê-las, saber onde buscar mais informações e se preparar para novas realidades é essencial para quem vive neste mundo. Cada vez mais global e interativo. Cujas mudanças percebemos cada vez mais precoce e com mais informações.

A NOVA EPIDEMIA que mais alarma o mundo não é o Ebola. Não é uma nova variação dos vírus respiratórios. Nem um surto de uma superbactéria. O relatório de início de ano da Organização Mundial de Saúde, o principal documento para balizar os cuidados do ano, concentra-se na epidemia que não tem um agente infeccioso como principal causador, nem soro, vacina ou droga antídoto . A OMS iniciou seu relatório anual de 2015 com novo alerta, mais importante do que o Ebola e outras epidemias que com alarme ocupam páginas, sites e mídias. Todo ano, em todo o mundo, mais de 16 milhões de pessoas morrem precocemente ( antes dos 70 anos de idade) por doenças crônicas não infecciosas, cuja morte poderia ter sido evitada, câncer, hipertensão, diabetes, acidentes vasculares e doenças pulmonares crônicas . Ao todo são mais de 38 milhões de mortes por estas doenças. A NOVA EPIDEMIA já se concentra em países como o Brasil, de renda média ou baixa, onde se registra 82% dos casos de mortes precoces evitáveis. Depois da violência, nada matou mais no mundo. Não precisamos ir longe para percebermos isso. Veja ao seu redor, na sua família, nas pessoas com quem você convive, com quem estuda, trabalha ou que trabalham para você. De que tipo de doenças mais sofrem hoje?



Os “9 gols” mundiais para enfrentar esta nova epidemia não incluem nenhuma vacina ou controle de vetores e circulação de pessoas. Não levam ninguém ao isolamento ou quarentena. Pelo contrário, o esforço é como podemos mudar, no dia a dia , aquilo que decidimos fazer, no cotidiano, exatamente por temos algo sensacional que nos faz sentir seres humanos modernos : liberdade para fazer as coais que queremos. Essas escolhas poderão estabelecer como o mundo e cada um de nós viveremos nos próximos anos. Segundo a Assembleia Geral da OMS, as recomendações para o mundo alcançar até 2025 são:

1) reduzir a mortalidade geral por doenças cardiovasculares, câncer, diabetes ou pelas doenças respiratórias crônicas em 25%;

2) redução relativa do uso nocivo do álcool em pelo menos 10%

3) redução relativa da prevalência de atividade física insuficiente em 10%;

4) redução relativa da média populacional de ingestão de sal ou sódio em 30%;

5) redução relativa da prevalência do consumo atual de tabaco em 30%, em pessoas com 15 anos ou mais;

6) redução relativa de 25% na prevalência de hipertensão;

7) impedir o aumento da diabetes e da obesidade;

8)Tratamento farmacológico e aconselhamento (incluindo o controle glicêmico) de pelo menos 50% das pessoas que o necessitam para prevenir ataques cardíacos e acidentes cerebrovasculares;

9) Disponibilidade de tecnologias básicas e medicamentos essenciais, incluído os genéricos, necessários para tratar as principais DCNT, acessíveis em centros públicos e privados.


Para nós, indivíduos, estes “gols” significam:

1) estarmos cientes de que provavelmente somos ou seremos acometidos por este tipo de doenças, portanto todo cuidado é fundamental para garantirmos qualidade de vida

2) se quisermos manter hábito social de tomar uma bebida alcóolica, que aprendemos a gostar ao longo da vida, não a combine com dirigir, sempre tome água e alimente-se junto e vá reduzindo-a, como por exemplo só fazê-lo quando em eventos sociais, evitando-a tomá-la sozinho, e reduzindo número de dias por semana

3) se você ainda não é o chamado rato de academia ou puder ir trabalhar todo dia a pé ou de bicicleta, determine pequenas metas diárias de atividade física que já farão uma diferença enorme para a sua saúde: escolha pelo menos 2 dias da semana para ir trabalhar a pé, de bicicleta ou metrô; tente estacionar ou descer do transporte 10 min a pé do trabalho; saia para almoçar a pé no meio do dia; só use a escada no local de trabalho

4) procure alimentos que revelam redução da presença de sódio na sua embalagem e abomine o saleiro em cima da mesa;

5) se já fuma, procure todas as orientações e tratamentos se necessário para parar de fumar. Sabemos que não é fácil, por isso nem pensar de começar a fumar

6) se já desenvolveu hipertensão longe de ser o fim do mundo, muitas pessoas o serão como você, o bom é que temos conhecimento e acesso a medicamentos mais do que suficientes para controlá-las e com isso reduzir riscos de complicações

7) se já desenvolveu diabetes, o mesmo que disse sobre hipertensão;

8) seguir a risca as recomendações de exames de rastreamento para o câncer ,sobretudo colo de útero, mama e próstata. Para nós médicos e profissionais de saúde significa saber que as doenças crônicas passaram a ser algo tão inerente a vida humana hoje que conversar e estimular mudanças de hábitos, estar atento aos exames de rastreamento e saber conduzir pacientes com doenças crônicas é obrigação de todo profissional e não apenas de especialistas, como muitos pensavam anos atrás.


Porém, felizmente, nem tudo é notícia ruim. O relatório traz alguns avanços conquistados por países. Sobre o Brasil, elogia-se as medidas de restrição ao uso de tabaco que levaram uma forte redução do seu uso, da expansão da atenção primárias e saúde para as regiões mais pobres, da Lei Seca que proíbe álcool na direção e do acordo voluntário com a indústria e supermercados para redução do sódio nos produtos. Nos últimos anos, o Brasil começou a virar o jogo contra mortalidade por essas doenças, reduzindo-a 1,8% ao ano nos últimos anos. Mas estamos longe de vencer a batalha. Exemplo de combate ao tabaco na Turquia, redução de sódio na Argentina e Estados Unidos e Hungria também são lembrados.

Outra novidade que irá nos influenciar cada vez é a decisão do presidente Obama, que na sua mensagem anual ao Congresso, a famosa State of Union, fez questão de anunciar uma iniciativa que estimulará recursos, estudos e novas regulamentações para a chamada "Precision Medicine".

Mas do que se trata? É financiar com recursos do governo americano e com recursos privados a serem mobilizados estudos que mapeiem todos a informações de um indivíduo que possam contribuir para prever que problemas de saúde ele poderá ter ao longo da vida, como preveni-los e como melhor tratá-los. Para muitos esta nova abordagem na prevenção e cuidado a saúde é uma espécie de customização da medicina e ela só é possível graças ao avanço da biologia molecular e da informática para reunir uma montanha de dados diferentes e traduzi-lo para você. Cada indivíduo, graças a sua carga genética, hábitos e situação de saúde merece um tratamento individualizado, que pode significar tipos de drogas, exames e decisões totalmente diversas para mesma doença. Sabemos isoladamente como o que come, as condições onde nasceu, hábitos familiares, carga genética, fatores ambientais, condições de trabalho contribuem para a saúde de cada um de nós .

Temos ideia precisa de como tudo isso junto pode influenciar? Certo de que nem sempre é possível termos hábitos, condições de trabalho e de vida 100% saudáveis, que seguirmos tudo aquilo que dizem os estudos, receitas e portais da saúde é quase impossível até para nós profissionais de saúde, o que teria maior peso para definir se irá evoluir para um câncer, para doença cardiovascular, para o diabetes dentro da carga genética que nós herdamos? Qual a melhor conduta para cada indivíduo?

Esta nova abordagem pretende reunir conhecimentos já disponíveis mas que muitas vezes não chegam a um paciente ou por estarem dispersos em especialidades diferentes, ou por ainda não terem tido a influência necessária na formação de nosso profissionais ou mesmo porque os recursos para disponibilizá-los ainda são proibitivos, mesmo em países ricos como o Estados Unidos. Não tenha dúvida de que esta iniciativa irá trazer novas perguntas e exames para o dia a dia das consultas com profissionais de saúde. Elas mudarão arsenais tradicionais como, por exemplo, um exame de fezes , que poderá trazer informações preciosas sobre tipos de flora intestinais (bactérias) associadas a obesidade. Sobre o médico inserir um aplicativo no seu celular que ajudará a monitorar sua pressão, glicemia e ritmo cardíaco permanentemente. Como aquilo que já avançamos em relação ao câncer ,expandir-se para outros problemas de saúde: hoje exames que verificam carga genética ou receptores nas células cancerosas (exemplo mais notório está relacionado ao câncer de mama) e marcadores (como o velho e bom PSA para a próstata) já nos dão sinais indicativos de que algo pode não caminhar bem ou de que o tratamento que é ótimo para Caim não surtirá o mesmo efeito em Abel.

Avançarmos neste conhecimento e torná-lo acessível a todos nós será uma grande arma para fazer nossa vida melhor. O grande erro será se passarmos a valorizar um marcador genético em detrimento a entender como parar de fumar, como passar a se exercitar, como escolher melhor o que colocamos no nosso prato. As evidências da relação entre hábitos saudáveis e doenças crônicas continuam imbatíveis e a Organização Mundial de Saúde e Associações Mundiais de Médicos Especialistas refutaram tentativas recentes de reduzir a atenção sobre uma boa qualidade de vida. Em Saúde, a velha máxima não pode ser esquecida: o seguro morreu de velho. O melhor tratamento sempre será a Prevenção. Principalmente para a "NOVA EPIDEMIA MUNDIAL."




Créditos da Foto do Alexandre Padilha:
Karina Zambrana









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