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Dr. Mauricio Kurc - CRM 59335
Otorrinolaringologia
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Gripe e Vacinação

Com o tempo mais frio, nada mais oportuno do que conversarmos sobre as gripes e os resfriados, pois é agora que a incidência dessas afecções aumenta. Na verdade, gostaria mesmo de falar sobre a vacina da gripe.

Apesar das campanhas de vacinação, uma boa parte das pessoas ainda não está esclarecida sobre a importância da vacinação contra a gripe. Argumentos como “alguém em casa pegou gripe mesmo tomando a vacina”, “eu nunca pego gripe”, “ano passado tive reação à vacina”, são fruto do desconhecimento sobre as verdadeiras propriedades dessa vacina e contribuem para o fracasso das campanhas.

Antes de qualquer coisa, é importante entendermos a diferença entre o resfriado comum e a gripe. Ambas afecções são causadas por vírus e transmitidas de pessoa para pessoa. Os vírus são eliminados nas gotículas de secreções das vias respiratórias de uma pessoa contaminada ao falar, espirrar ou tossir. As mãos também transmitem os vírus para a mucosa oral, conjuntival ou nasal, após contato com superfícies recentemente contaminadas. A transmissão direta inter-humana é a mais comum, mas a transmissão do vírus de aves e suínos para o homem também pode ocorrer. O período de transmissibilidade é de dois dias antes até cinco dias após o início dos sintomas.


Resfriado Comum

O resfriado comum é uma doença mais branda que a gripe e causa menos complicações. Caracteriza-se por febre baixa, coriza (escorrimento transparente), congestão nasal, irritação da garganta e dura de 2 a 4 dias. Vários vírus podem ser os causadores em adultos como os Rinovírus (com mais de 100 sorotipos), os Coronavírus, os vírus Parainfluenza (principalmente os do tipo 3), os Enterovírus e os Adenovírus. Estes vírus têm a capacidade de mudar constantemente suas características, sendo impossível adquirirmos imunidade, e por isso somos sempre suscetíveis a novas infecções. Eventualmente, alguns vírus como o Adenovírus e o Parainfluenza podem causar infecções com sintomatologia mais intensa, mas dificilmente ocorrem casos fatais ou epidemias.



Gripe

A gripe é uma doença muito comum em todo o mundo, sendo possível uma pessoa se infectar com os vírus da influenza várias vezes ao longo de sua vida. É também frequentemente confundida com outras viroses respiratórias, por isso o seu diagnóstico de certeza só é feito mediante exame laboratorial específico. A gripe é causada somente por um vírus chamado Influenza e é responsável por sintomas mais intensos e de instalação abrupta.
O vírus influenza modifica-se constantemente. A cada 10 anos essas modificações são mais drásticas, o que acarreta alterações na sua estrutura e torna os indivíduos não mais imunes e, portanto mais susceptíveis às infecções graves. A baixa imunidade da população contra este vírus, com características completamente distintas, pode causar epidemias ou até mesmo pandemias (atinge vários países e continentes), durante as quais as taxas de doença e morte por complicações relacionadas à influenza aumentam consideravelmente no mundo todo. Durante o século XX as pandemias ocorreram aproximadamente a cada 30 anos sendo as mais famosas a gripe espanhola em 1918, que causou a morte de 20 milhões de pessoas e a “supergripe” de 1999 que acometeu o hemisfério norte durante o inverno e gerou um aumento substancial nas internações hospitalares e óbitos e superlotou as UTIs dos EUA e da Europa.
O quadro clínico caracteriza-se por febre que é geralmente alta, acima de 38oC e pode durar até 5 dias. Quase sempre há dor de cabeça, dores musculares, calafrios, queda do estado geral e tosse, inicialmente seca. Dor de garganta, congestão nasal e tosse costumam se agravar com a evolução do quadro. Esse é o quadro da síndrome gripal (tabela 1). O período de incubação é de 1 a 4 dias. As pessoas são contagiosas desde o dia anterior ao início dos sintomas até aproximadamente 5 dias de doença. Crianças podem ser contagiosas por períodos maiores.


Tabela 1: Síndrome Gripal (SG)
Fonte: Hospital Israelita Albert Eisntein

1) Para menores de 6 meses
Febre de início súbito (mesmo que referida) e sintomas respiratórios


2) Para maiores de 6 meses
Febre de início súbito (mesmo que referida) acompanhada de tosse ou dor de garganta, e pelo menos um dos sintomas: cefaleia, mialgia ou artralgia

Normalmente, a gripe melhora após 7 a 10 dias para a maioria das pessoas, embora a tosse e o mal-estar possam persistir por duas semanas ou mais. Os vírus influenza causam doença em todos os grupos etários. As taxas de infecção são maiores entre as crianças, mas as taxas de doenças sérias e morte são maiores entre as pessoas acima dos 60 anos de idade, pois nessa faixa etária há uma maior incidência de condições médicas que os colocam em maior risco de complicações. Além das pessoas com mais de 60 anos, portadores de doenças crônicas (como diabetes, câncer, doenças crônicas do coração, dos pulmões e dos rins), gestantes nos 2° e 3° trimestres de gravidez e recém-nascidos também podem apresentar quadros clínicos mais graves, como pneumonia pelo próprio vírus ou decorrente de uma complicação bacteriana (Tabela 2). Acometimento cardíaco e neurológico já foram descritos em casos graves.


Tabela 2: Fatores de risco para complicações da gripe

Fatores de risco para complicações
_ Crianças <2 anos
_ Adultos ≥ 60 anos
_ Grávidas em qualquer idade gestacional, puérperas ate duas semanas após o parto (incluindo as que tiveram aborto ou perda fetal);
_ Imunossupressão (incluindo medicamentosa ou pelo vírus da imunodeficiência humana);
_ Indivíduos menores de 19 anos de idade em uso prolongado com ácido acetilsalicílico (risco de Síndrome de Reye);
_ População indígena;
_ Obesidade mórbida (índice de massa corporal ≥40)
_ Indivíduos com doença crônica (Tabela 5)

Pessoas jovens e sem doenças crônicas raramente apresentam quadros graves, exceto durante epidemias.

A Síndrome Respiratória Aguda Grave (Tabela 3) é um quadro de pneumonia grave e que pode levar ao óbito se não identificada e tratada precocemente.

A gripe pode então gerar complicações que são responsáveis por milhares de mortes anualmente e que, portanto, justificam a imunoprofilaxia (vacinação) com a vacina de vírus atenuado (vírus mortos) em massa. Esta é a principal opção para reduzir o impacto da influenza.


Tabela 3: Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)
Fonte: Hospital Israelita Albert Eisntein

Indivíduo de qualquer idade que apresente dispneia ou saturação de O2 menor que 95% em ar ambiente ou sinais de desconforto respiratório e/ou:
− aumento da frequência respiratória de acordo com idade, ou piora nas condições clínicas de base em cardiopatias e pneumopatias crônicas;
− hipotensão em relação à pressão arterial habitual do paciente.
− em crianças, além dos itens acima, observar também a presença de batimentos de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação e inapetência.

Sintomas de gripe ou resfriado após a administração da vacina, não são uma reação à vacina, pois essa é feita a partir de vírus inativados e, portanto não pode causar a gripe. A vacina da gripe oferece proteção apenas contra o vírus influenza, responsável pelo tipo mais grave de gripe. Portanto, infecções menos severas, causadas por outros vírus podem ser a explicação para os resfriados que ocorrem após a administração da vacina. Além disso, o tempo necessário para se obter o efeito protetor da vacina é de 15 dias. Nesse período é possível contrair-se a gripe, apesar da pessoa ter sido vacinada. A vacina também só é eficaz em 70 a 90% das pessoas que a recebem. De qualquer forma, em caso de acontecer a infecção numa pessoa previamente vacinada, o quadro clínico costuma ser mais brando.

Reações adversas são raras, mas pode ocorrer febre e, principalmente, dor no local da aplicação com duração de até dois dias. A vacina deve ser repetida anualmente, pois a cada ano, sua composição é modificada em conformidade com as características dos vírus circulantes.

A vacina deve ser aplicada durante o início do outono, em pessoas consideradas como grupo de risco para complicações da gripe (veja logo abaixo) ou, a critério médico, a qualquer indivíduo com mais de 6 meses de idade.

No Brasil, neste ano, o período de vacinação ocorre entre 15 a 26 de abril (prolongado em alguns estados). A meta do Ministério da Saúde é vacinar 32 milhões de pessoas, o equivalente a 80% do grupo prioritário: idosos com 60 anos ou mais, crianças de seis meses a dois anos, indígenas, gestantes, pessoas privadas de liberdade e profissionais de saúde. Também receberão a vacina mulheres no período de até 45 dias após o parto (em puerpério) e os doentes crônicos, que terão o acesso ampliado a todos os postos de saúde e não apenas aos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs).

Segundo o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha “a novidade da campanha é que, este ano, fazem parte do público prioritário mulheres no período de até 45 dias após o parto e os doentes crônicos. A vacinação é segura e feita com o objetivo de diminuir o risco de ter doença grave e evitar o óbito. Ao mesmo tempo, as pessoas que apresentarem os sintomas da gripe devem procurar o posto de saúde porque tem tratamento”.

O objetivo da vacinação é contribuir para a redução das complicações, internações e óbitos provocados por infecções da gripe. A vacina protege contra os três subtipos do vírus da gripe que mais circularam no inverno passado (A/H1N1; A/H3N2 e influenza B).
“A vacina da influenza tem a imunidade curta, de nove a doze meses. Depois de vacinadas, as pessoas estarão protegidas a partir de 15 dias. Quem foi vacinado no ano passado, precisa tomar a dose novamente”, orienta o ministro da Saúde.

O objetivo da vacinação é reduzir o risco da doença grave. As ações do Ministério da Saúde , em parceria com estados e municípios, visam tanto a prevenção quanto o tratamento e o diagnóstico precoce. A vacinação pode reduzir entre 32% a 45% o número de hospitalizações e de 39% a 75% a mortalidade por complicações da influenza.

Feita com o vírus inativado, a vacina é segura e a única contra indicação é para as pessoas que têm alergia severa a ovo.

Praticamente não existem contra-indicações à vacina, porém não devem tomar a vacina:
1. mulheres no primeiro trimestre da gravidez,
2. pessoas com doenças neurológicas em evolução,
3. durante quadros febris.

No Brasil, não há estatísticas oficiais referentes à incidência e mortalidade pelo vírus influenza. Entretanto, formou-se um grupo de vigilância da gripe (Vigigripe), para análise dos tipos de vírus circulantes em indivíduos com sintomas respiratórios, tendo-se observado que o vírus influenza foi identificado em aproximadamente 16% dos casos. Estatísticas americanas mostram que, a cada ano, 170.000 hospitalizações e 20.000 a 40.000 óbitos podem ser atribuídos à infecção pelo influenza. Oitenta a 90% dos óbitos ocorrem em pessoas com mais de 65 anos.

Ultimamente algumas drogas têm surgido para o tratamento da influenza e são um importante auxilio à vacinação mas não um substituto. Esses novos medicamentos antivirais, só têm valor quando administrados nas primeiras 72 horas após o início do quadro e necessitam supervisão médica.


Prevenção das infecções das vias respiratórias: medidas gerais
Fonte:http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/index.cfm?portal=pagina.visualizarArea&codArea=376



Como medida geral de prevenção e controle de doenças de transmissão respiratória, recomenda-se:
• Higiene das mãos com água e sabão (depois de tossir ou espirrar, depois de usar o
banheiro, antes de comer, antes de tocar os olhos, a boca ou o nariz);
• Evitar tocar os olhos, o nariz ou a boca após contato com superfícies contaminadas;
• Usar lenço de papel descartável;
• Proteger com lenços a boca e o nariz ao tossir ou espirrar, para evitar disseminação das gotículas;
• Orientar o doente para que evite sair de casa enquanto estiver no período de transmissão da doença;
• Conservar o ambiente doméstico arejado e recebendo a luz solar, pois essas medidas ajudam a eliminar os possíveis agentes das infecções respiratórias;
• Restrição ao ambiente de trabalho, para evitar disseminação;
• Hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, ingestão de líquidos e atividade física.


Tabela 4
Pacientes cujas doenças crônicas tem indicação para a vacina



Categoria e Indicações

Doença respiratória crônica, indicado para:
Asma em uso de corticóides inalatório ou sistêmico (Moderada ou Grave); DPOC;
Bronquioectasia
Fibrose Cística
Doenças Intersticiais do pulmão
Displasia broncopulmonar
Hipertensão arterial Pulmonar
Crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade

Doença cardíaca crônica:
Doença cardíaca congênita
Hipertensão arterial sistêmica com comorbidade
Doença cardíaca isquêmica
Insuficiência cardíaca.

Doença renal crônica
Doença renal nos estágios 3, 4 e 5
Síndrome nefrótica
Paciente em diálise

Doença hepática crônica
Atresia biliar
Hepatites crônicas
Cirrose

Doença neurológica crônica
Condições em que a função respiratória pode estar comprometida pela doença neurológica
Considerar as necessidades clínicas individuais dos pacientes incluindo: AVC, Indivíduos com paralisia cerebral, esclerose múltipla, e condições similares
Doenças hereditárias e degenerativas do sistema nervoso ou muscular
Deficiência neurológica grave

Diabetes
Diabetes Mellitus tipo I e tipo II em uso de medicamentos

Imunossupressão
Imunodeficiência congênita ou adquirida
Imunossupressão por doenças ou medicamentos

Obesos
Obesidade grau III

Transplantados
Órgãos sólidos
Medula óssea










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