Beleza
As mulheres francesas são realmente as mais elegantes ? Por que? (*)

A impressão que ficamos quando passeamos pelo centro histórico de Paris (Champs Elysées, Torre Eiffel, Quartier Latin, Bastille, Marais...) ou por outras cidades turísticas da França (Lyon, Bordeaux, Marseille, Lille, Deauville...), é que as mulheres francesas são elegantíssimas, magras na medida certa, vestidas com muito requinte e bom gosto, maqueadas com muita discrição, enfim, Brigittes Bardots, Catherines Deneuves, Juliettes Binochets, Marions Cotillards, Amélies Poulains...

Mas pasmem: como descreve muito bem Jean Pierre Poulain (famoso sociólogo francês que pesquisa a relação entre a sociedade e alimentação) o sobrepeso e a obesidade na França , como na maioria dos países ocidentais, se encontra mais em mulheres e homens de classes sociais desfavorecidas, ou das classe sociais mais baixas.

Como demonstra o estudo Obepi-Roche de 2012, 6a. edição , a obesidade na França « atinge » 15 % de la população adulta, o que corresponde à mais ou menos 6,9 milhões de obesos, em torno de 3,3 milhões mais que em 1997. As pessoas obesas e com sobrepeso encontram-se nas regiões mais pobres do país ou mesmo bairros pobres das grandes cidades francesas. Foi então, por causa desta distribuição geográfica da obesidade e sobrepeso, que o governo francês, junto com os núcleos de pesquisa em obesidade franceses (ex. O Hospital La Pitié- Salpêtrière) criaram os centros de atendimento e tratamento da obesidade, em regiões e locais estratégicos, é claro, onde se concentram as populações de obesos.

Mas voltemos à falar das mulheres francesas, charmosas, glamorosas e elegantes. Estas mulheres se encontram nas classes sociais mais altas, privilegiadas, têm também nível intelectual diferenciado, mais educação e mais informação.

Estas mulheres casadas, solteiras, com 1, 2, 3, 4, ou nenhum filhos, não passam o dia na academia, nem “malucas” com a quantidade de calorias ingeridas, ou com a quantidade de açúcar, glúten ou ácidos graxos dos alimentos nas prateleiras do supermercado.



Estas mulheres mantém os hábitos alimentares de seus antepassados, com pouquíssimas alterações (aqui não menciono os jovens estudantes, nem os jovens solteiros que moram sozinhos, ou uma parte da população francesa que praticam a desestruturação da refeição, como descreve também muito bem Jean Pierre Poulain ), batatas liofilizadas, alguns alimentos congelados, uns biscoitos, mas nada ao ponto de desestruturar as refeições francesas clássicas do dia-a-dia nas grandes cidades francesas.

Algumas pessoas confundem o “french- paradox”, uma expressão utilizada pelos anglo-saxões para apontar a “incoerente” relação entre a quantidade de gorduras e vinhos da cozinha francesa, e a boa saúde pública dos franceses que apresentavam, em 1986, menos casos de doenças cardio-vasculares e câncer quando comparados às populações americana e inglesa. Este é o verdadeiro “paradoxo francês” que se estendeu à corpulência da população francesa e às mulheres francesas.

Os americanos, sobretudo, consideram os franceses ao mesmo tempo “glutões” e misteriosamente magros; com tanta coisa boa para comer, como a famosa “patisserie”, os vinhos, queijos, pães, e pratos tipicamente franceses...

Simon Laham no livro “A ciência dos pecados: psicologia dos sete mortais ( e porque eles são tão bons)" comenta: “Os americanos tem uma atitude ascética com relação a alimentação que os leva a restringir. O entorno culinário, ao contrário, se compõe de enormes porções de preparações ricas em calorias e de facil obtenção (...). Na França, as pessoas se entregam a glutonaria. Mas o entorno culinário é estruturado de maneira à restringir estes tendências libertinas.”

Num estudo em 2003 os sociólogos Rozin e Fischler (« The Ecology of Eating : Smaller Portions Size in France than in the United States may help explain the French Paradox », Rozin & Fischler, 2003) pesaram as porções de alimentos servidos nos restaurantes de Paris e Filadélfia e descobriram que nos Estados Unidos as porções eram 25% maiores do que as servidas na França. Isso pôde-se observar mesmo nas redes como McDonald’s ou Pizza Hut, onde a alimentação pensava-se “standart”: a porção média de batatas fritas pesa 90 gramas na França e 155 gramas nos Estados Unidos. Mesmo nos livros de culinária as receitas são 25% maiores. Difícil para um americano resistir a ingestão quantitativa de alimentos.

Morando há mais de 17 anos na França e estudando sobre alimentos, alimentação, hábitos alimentares, entre outros, eu percebi que no Brasil se come MUITO, as porções são enormes.

Numa das primeiras vezes que eu levei amigos franceses para o Brasil eles ficaram assustados com o tamanho das porções e com a diversidade de preparações para uma mesma refeição; ficaram com fome algumas horas depois do almoço porque não conseguiram ingerir a quantidade que lhes permitisse passar mais tempo saciados. Até hoje o tamanho das porções assustam os turistas franceses.

Atualmente até eu me assusto com a quantidade de comida preparada e ingerida, e acredito que o que faz com que as mulheres francesas de um determinado grupo social, sejam mais elegantes independente da idade e número de filhos (digo porque no Brasil ter filhos foi durante muito filho um fator “engordativo”, acreditava-se que depois dos filhos dificilmente se voltava ao “corpo de antes”) se explica pelo fato delas comerem nas horas certas, mais vezes por dia, em pouca quantidade e boa qualidade; não se preocuparem com o número de calorias ingeridas mas com a quantidade de alimentos consumidos, não ultrapassarem o que seu próprio estômago e saciedade não lhes permite, aceitarem um leve ganho de peso no inverno e sua perda na primavera com a diminuição do sentimento de fome que o frio induz e a consequente diminuição da quantidade de alimentos ingeridos, seus hábitos são modulados pelo clima e ingerem portanto alimentos sazonais, não dispensam o copinho de vinho quando é necessário, uma boa “patisserie” quando for conveniente, não beliscam habitualmente, e usam metrô, ônibus ou trem (quando moram mais longe) e andam bastante.

Segue o exemplo do dia de 2 mulheres francesas, elegantes, magras na medida certa e felizes.

1. E.C., 54 anos, 7 filhos, Altura: 166 cm, P: 58,5 Kg

7H00: 250 ml de Ricorée (composto de 40 % de café et de 60 % de chicória: sim, é isto mesmo, amargo e aguado!)
Meia baguette com manteiga e geléia.
10H00: 250 ml de Ricorée
12H00: 1 prato de salada + 1 colher de arroz + 1 hamburguer + 1 iogurte (125 gramas) + 1 pêssego
16H00 : 250 ml de cha preto + meia baguette com geleia (sem manteiga) + 2 quadradinhos de chocolate amargo.
20H00: 1/8 de quiche lorraine + 1 prato de salada de folhas + 1 maça (ou Iogurte)

E.C. não come carne a noite.


2. C.V., 43 anos, 1 filho, Altura:163cm, Peso: 57 Kg
6H15: Meia baguete torrada com manteiga e geleia + 1 copo de suco de laranja (200 ml) + ½ torrada + Iogurte natural (125 g)
9H00 : 1 xicara de capuccino sem açucar
11H45: 1 Prato de salada de folhas + 1 pedaço de peixe com molho bernaise + colher de vagem cozida + 1 colher de arroz + 1banana.
19H30: 1 pedaço (1/8) de quiche de alho poro + 1 iogurte (125 g)
C.V. Não come salada de noite.


• As saladas costumam ser temperadas com a”vinaigrette” francesa : azeite ou óleo + vinagre + mostarda de dijon batidos.



Eu acredito que se pensássemos mais no comer para viver e menos no viver para comer, mais pelo prazer modulado pelo nosso proprio corpo e se tivessemos uma sociedade menos obesogênica, um entorno que nos permitisse fazer opções menos volumosas e mais saudáveis, poderíamos todas almejar a classe a elegância da “mulher francesa”.





(*) Por Profa. Dra. Juliana T. Grazini dos Santos – Nutricionista, Especialista em Nutrição Materno Infantil - UNIFESP, Mestre em Ciências aplicadas à pediatria – UNIFESP, Doutora em Informação e Comunicação/Jornalismo Científico – Université Paris 7/Denis Diderot





Veja mais sobre BELEZA em:

1) Dermatologia e Saúde com Dra. Érica Monteiro

2) Pele Saudável com Dra. Katia Volpi Fogolin

3) Beleza e Estética com Orlando Sanches

4) Cirurgia Plástica e Saúde com Dr. Rodrigo Gimenez


Compartilhar




Mais Matérias

Veja mais

25/09/2016 - Estrias e celulite: excesso de açúcar, sal, gordura saturada, exercícios de musculação com muito pes


16/05/2016 - Plus Fitness: o novo perfil de mulher brasileira


28/03/2016 - O que uma boa maquiagem pode fazer por você, além de embelezar o seu rosto?


11/02/2016 - Cera X Depilação Duradoura


11/02/2016 - O que é a abdominoplastia?




Clique aqui e veja todas as matérias

Encontre os melhores preços de medicamentos e leia bulas