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19/03/2010
Não se prenda ao chocolate na Páscoa

Chocolate para os Aztecas ( xocolati ) era uma bebida sagrada, o alimento dos deuses.

Somente o conselho de guerra e os soldados tinham permissão para bebê-lo, devido aos super poderes atribuídos a quem o tomava.

Apesar deste racionamento, o conselho de guerra tomava 2 000 jarros de chocolate por dia, aromatizado e condimentado com chilli, pimenta, especiarias ou baunilha.

Hoje em dia, muito chocolate é uma paródia. O verdadeiro é escuro e amargo.

Bom chocolate, feito com manteiga de cacau e contendo pelo menos 60% de cacau sólido, é tão delicioso, forte e caro, que somente pequenas quantidades podem ser ingeridas.

O bom chocolate, quando colocado na ponta da língua, derrete completamente.

Deixando de lado as curiosidades, vamos falar um pouco sobre algumas evidências científicas deste alimento dos deuses .

Não há evidências científicas de que o chocolate seja capaz de causar dependência, porém, diante de uma privação ou após o consumo, algumas pessoas parecem ter reações psicofarmacológicas inerentes a um vício.

Alguns estudos mostram que o chocolate pode desencadear comportamentos de compulsão e busca frenética, principalmente entre as mulheres.

O termo chocaholic é comumente utilizado e expressa a necessidade (motivação periódica e intensa) de consumir o chocolate ou algum produto à base de chocolate. Alguns autores estimam que 40% das mulheres apresentam este comportamento e, deste total, ¾ não satisfazem esta necessidade com qualquer outra substância que não seja o próprio chocolate.

Existem algumas teorias e muitas controvérsias nas possíveis explicações de como o chocolate induziria a um comportamento de adição (uso abusivo e síndrome de abstinência).

Na literatura existem 4 teorias básicas para justificar este comportamento: motivação sensorial, possível ação farmacológica por componentes bioativos, busca específica relacionada a carência de micronutrientes e resposta hormonal, esta última exclusivamente para as mulheres.

O chocolate apresenta gosto, textura, cheiro e consistência bastante peculiares e a associação açúcar e gordura parece ser a principal responsável pelas agradáveis características organolépticas que incitariam a um consumo compulsivo.

Alguns pesquisadores atribuíram o vício pelo chocolate a algumas substâncias que apresentam ações semelhantes às catecolaminas como a tiramina e a feniletilamina (PEA).

Ao se analisar amostras de chocolate, observa-se que cada grama contém cerca de 0,4 a 6,6 mcg de PEA, quantidade inferior a encontrada em queijos e embutidos, o que não justificaria o craving . Além disso, estudos demonstram que a ingestão de até 1g de PEA não alteraria a concentração urinária de seus metabólitos.

Especula-se ainda que a busca pelo chocolate possa estar associada às metilxantinas. A cafeína e a teobromina são conhecidos estimulantes presentes em diversos alimentos. O cacau apresenta essas duas substâncias associadas e alguns autores afirmam que poderia haver um sinergismo que potencializaria o efeito estimulante das metilxantinas nos produtos a base de cacau.

O chocolate também possui substâncias que mimetizam a ação da anandamida, um neuromodulador que aumenta a atividade da dopamina. Estas substâncias são capazes de ativar os receptores e elevar os níveis da anandamida, o que poderia intensificar as propriedades sensoriais do chocolate e seria fundamental para a compulsão. Entretanto, é possível que a quantidade de análogos da anandamida presente no chocolate seja insuficiente para induzir efeitos neuroquímicos.

Outra teoria sugere que a busca pelo chocolate poderia ser motivada por deficiência de micronutrientes, como o magnésio. O estresse leva a um aumento da excreção renal e diminuição da absorção intestinal de alguns minerais. Uma deficiência de magnésio pode interferir nos níveis de dopamina e assim, talvez alterar o humor. Segundo a RDA, a necessidade de magnésio para pessoas adultas é de aproximadamente 300mg e o chocolate é uma fonte deste mineral. Alguns autores acreditam que a suplementação de magnésio durante a fase pré-menstrual poderia diminuir o desejo por chocolate. Vale lembrar, porém, que as maiores fontes de magnésio são as castanhas, os cereais integrais e os vegetais verdes.

Uma teoria bastante aceita para justificar o consumo abusivo de doces baseia-se na modulação dos níveis de serotonina. A ingestão de carboidratos aumentaria a disponibilidade do triptofano - precursor da serotonina no cérebro.

Carboidratos com alto índice glicêmico têm mais condições de promover síntese de serotonina e conseqüentes melhoras no humor. O chocolate, por conter proteínas e gorduras apresenta um índice glicêmico mais baixo que muitos outros doces e, mesmo assim, é o alimento mais associado à compulsão. Estudos ainda demonstram que a vontade de comer chocolate não é suprida com a ingestão de qualquer outro alimento, por mais doce que seja.

Além disso, em uma investigação com indivíduos que se autodefinem como viciados em chocolate, há muitos relatos de sensação de culpa após o consumo, descartando a teoria da serotonina, que seguiria uma sensação de bem-estar.

Acredita-se que o consumo de chocolate pelas mulheres possa ser modulado pelas flutuações hormonais. Na fase pré-menstrual, com a alteração nos níveis de estrógeno e progesterona, parece haver um maior consumo de doces e gorduras.

Algumas evidências sugerem que os níveis de serotonina estão mais baixos no período que antecede a menstruação, o que levaria a uma maior busca de doces e alimentos palatáveis.

Há relatos de que a galanina e o neuropeptídeo Y variam com as alterações hormonais, aumentando seus níveis séricos com o aumento da progesterona.

Um estudo em ratas demonstrou que injeções hipotalâmicas de neuropeptídeo Y estimulam o consumo de carboidratos e gorduras e a galanina parece atuar da mesma forma. Outro estudo mostrou que ratas que tem preferência por alimentos gordurosos tem maiores concentrações de galanina e neuropeptídeo Y.

Apesar das poucas evidências, sabemos que a escolha dos alimentos depende de fatores ambientais, orgânicos e cognitivos. O ser humano acaba sendo condicionado a consumir determinado alimento em algumas situações específicas como o bolo no aniversário, a sopa com a doença, o chá com o resfriado, e, de certa forma, o chocolate com a tristeza e decepção. O chocolate, muitas vezes é utilizado como um alívio ou compensação. Este fator cognitivo também poderia, de certa forma, estar associado a o comportamento compulsivo.

Com tantas teorias e controversas é difícil identificar o (s) fator (es) que pode (m) estar relacionado (s) a compulsão pelo chocolate e se realmente podemos garantir que é um alimento com potencial de causar dependência. O apelo sensorial e a composição química associados ao estado psicológico e a fatores cognitivos parecem ser os determinantes da busca pelo chocolate.

Enquanto não sabemos se o craving por chocolate está relacionado a alterações neuroquímicas ou hormonais ou se não passa de um desejo por uma gratificação sensorial, pode ser interessante, ou até mesmo necessário, permitir que os chocaholics incluam pequenas doses diárias ou estipulem uma freqüência semanal para seu consumo.

Devemos lembrar que, por um mecanismo ou por outro, alguns de nossos pacientes podem apresentar, algum grau de dependência e a permissão de uma pequena porção de chocolate pode favorecer uma maior adesão ao tratamento, principalmente à dieta.

Veja mais sobre o assunto em nossas colunas de Nutrição com Dra. Rosana Farah e Por Dentro do seu alimento com Dra. Nicole Valente





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