09/06/2008
Regulação da sede no exercício
A sensação de sede que experimentamos quando não bebemos líquido em quantidade suficiente ou a sensação de fome que se instala quando deixamos de comer por certo tempo, são sensações que não podem ser atribuídas a um determinado órgão sensorial ou a determinada parte do corpo, razão pela qual são chamadas "sensações de caráter geral".
A concentração de líquidos orgânicos devida à falta de água é percebida pelos osmorreceptores, dando origem à sensação de sede.Portanto, a sede é uma sensação geral baseada na resposta integrada de numerosos tipos de receptores, alguns dos quais estão localizados na periferia, ao passo que outros se localizam no sistema nervoso central.
O corpo humano adulto contém cerca de 70 a 75% de água em relação ao peso sem levar em conta os depósitos de gordura. Este elevado conteúdo líquido do organismo é mantido dentro de limites bastante estreitos. O organismo pode perder água fisiologicamente de quatro maneiras, pela produção de urina, suor, sob a forma de vapor de água no ar expirado e através das fezes. Esta água perdida precisa ser reposta ; caso contrário, rompe-se o delicado equilíbrio entre as numerosas substâncias dissolvidas.
Um outro fator que influi na sensação de sede é a divisão do corpo em dois compartimentos com propriedades diferentes. Cerca de dois terços do líquido do corpo estão contidos nas células, formando o espaço intracelular; o terço restante está contido no espaço extra celular. Cerca de dois terços da água extra celular ocupam as lacunas entre as células, ou seja, o espaço intersticial, encontrando-se o restante no sistema vascular, formando a fase líquida do plasma sangüíneo. Os líquidos extra celular e intracelular são separados pelas membranas celulares e apresentam composição diferente, sobretudo no que diz respeito aos íons.
Quanto aos sensores responsáveis pela sensação de sede desencadeada pela deficiência de água no espaço extra celular, existem apenas conjecturas e provas indiretas de sua existência. Admite-se que os receptores de distensão, localizados nas paredes das grandes veias próximas ao coração e nas aurículas, não influenciam somente a circulação do sangue, mas que eles também participam da regulação do balanço hídrico e na produção da sensação de sede.
A diminuição do fluxo salivar e a conseqüente secura da boca que acompanham a deficiência de água são anunciadas pelos receptores localizados nas mucosas da boca e da garganta. Não se sabe ao certo até que ponto cada um desses receptores participa na produção deste componente periférico da sede. Quando estes receptores são estimulados sem que exista deficiência geral de água no organismo, como pode ocorrer durante a fala prolongada, a falsa sede assim produzida pode ser eliminada graças à umidificação da mucosa da boca. Entretanto, sinais procedentes da região orofaríngea absolutamente não são indispensáveis para a sensação de sede devida à deficiência efetiva de água no organismo. Na presença da sede legítima, a umidificação da garganta é capaz de diminuir a sensação da sede, mas não será capaz de eliminá-la.
Existe um intervalo apreciável entre o momento em que começamos a beber e o momento em que a deficiência de água é corrigida, porque a água que chega ao estômago e ao intestino precisa ser absorvida, este processo ocorre principalmente no intestino delgado. Sabe-se que a sensação de sede desaparece muito antes da deficiência de água nos espaços intra e extra celular possa estar compensada. Quer dizer que a saciedade posterior à absorção é precedida pela saciedade anterior à absorção.
Ainda são desconhecidos os receptores ou mecanismos responsáveis pela saciedade pré-absorção. Isto leva a crer que a própria ingestão de água, ou seja, os processos motores e sensoriais ligados à ingestão da água são capazes de aliviar temporariamente a sensação de sede. A distensão do estômago pelo líquido ingerido parece também desempenhar certo papel. Todavia, os mecanismos neurais responsáveis por este fenômeno são desconhecidos.
Depois que o déficit de água foi relativamente compensado, saciedade pós - absorção, decorre um certo tempo até que se instale novamente a sensação de sede, mesmo que continue havendo uma certa perda fisiológica de água, lenta mas persistente.
Alguns fatores influenciam na absorção intestinal como a intensidade do exercício, sabe-se que exercícios de intensidade até 70-80% do VO2 máx não influenciam na absorção de água, glicose ou sódio no intestino delgado, já exercícios de alta intensidade comprometem o fluxo sangüíneo e pode diminuir a absorção intestinal.
Pequenas quantidades de carboidratos e eletrólitos podem facilitar a absorção de água na circulação pelo intestino, a glicose e o sódio se interagem na parede do intestino, a glicose estimula a absorção de sódio e o sódio é necessário para a absorção da glicose. Quando a glicose e o sódio são absorvidos, esses solutos tendem para um conjunto de fluidos via efeito osmótico facilitando a absorção da água.
Exercício principalmente em temperaturas elevadas promove uma diminuição do volume sangüíneo o qual é redistribuído perifericamente para aumentar a atividade da sudorese na tentativa de dissipar o calor produzido nas reações metabólicas.
A água desempenha papel fundamental termorregulatório, para manter o volume plasmático, para compensar a desidratação e reduzir a hipertermia e efeitos adversos no sistema cardiovascular, esses efeitos adversos são evidenciados por uma diminuição do volume plasmático que aumenta a densidade sangüínea e há uma sobrecarga do sistema cardiovascular, aumento da resistência ao fluxo sangüíneo e conseqüente déficit na perfusão sangüínea para alguns tecidos e conseqüente redução da performance.
Pela importância dos eletrólitos serem os maiores componentes sólidos do suor, consideráveis pesquisas tem sido conduzidas para a verificação da necessidade de reposição desses nutrientes, primariamente o sódio e o potássio. Estudos de BARR et al. 1991, demonstraram que durante o exercício prolongado e extenuante como a maratona, com altos níveis de perda de suor, a água pura é o fluido mais recomendado para a reposição e manutenção do balanço de eletrólitos.
Referência citada:
Barr, S. et al. Fluid replecement during prolonged exercice: Effects of water, saline and no fluid. Med. Sci. Sports Exerc. .23, p. 811-17, 1991.
|